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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Texto de Hélio Pólvora

Cultura de big brother

Quem participa dos paredões e outros vexames do Big Brother Brasil, digno da imaginação de um Marquês de Sade, vira celebridade da noite para o dia, além de embolsar, o vencedor, alta quantia de dinheiro. Dá para comprar apartamento e viver folgados por uns tempos.

Muito me admirei, por isso, que um figurante, por sinal baiano, depois de leito deputado federal se declarasse avesso a celebridade conferida por tão pífio programa que acelera a queda dos valores éticos, morais, culturais. Célebre, disse ele, é Machado de Assis.

É no mínimo curiosa essa alusão ao grande romancista autodidata. Longe vai o tempo em que escritores gozavam do prestigio público, eram cortejados, emulados, apontados nas ruas. O biógrafo R. Magalhães Jr., em página sobre “belle époque” carioca, afirmou que eles competiam, em fama, com as divas do teatro lírico. Havia uma conferência de Olavo Bilac, Coelho Neto e outro a um programa de “bel conto.”

Conceitos de Cultura tem mudado muito, a ponto de enxovalharem a dita cuja. Hoje há mais curiosidade em espiar o que acontece no Big Brother do que compulsar livros didáticos, obras de ficção que enriquecem o vocabulário, oferecem lições de psicologia de vida, e sobremodo ensinam a pensar.

Certos programas televisivos são uma vergonha pública. Rendem Audiência e faturam alto graças ao julgamento de multidões, por telefone, conforme convênio com uma operadora. Que se danem, então, valores pessoais, familiares e sociais já de si vacilantes.

Recentemente, a emissora do Big Brother Brasil exibiu uma ‘novela’ (assim denominam o melodrama ou pornochanchada diário) em que não havia uma só mulher adepta da fidelidade. Os homens sofriam as conseqüências e, ademais eram pedófilos, drogados, gigolôs, chantagista, bígamos.

Um deles, de um ridículo nojento, exumava imbecilidade e maroteira. Será que tais protagonistas representam o universo brasileiro? O que essa gente faz, além de futricar e esnobar, para viver na ociosidade e no luxo? Talvez “novelista” que os concebeu consiga explicar.

Hélio Pólvora - Jornalista, escritor, tradutor, membro da academia de Letras da Bahia

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