O assassinato cultural.
De vez em quando escrevo aqui sobre um tema bastante delicado, ao qual chamo de “assassinato cultural”: é a mania da assim chamada mídia de eleger alguém pra vítima, pra bode expiatório, e “matá-lo” aos poucos.
Essa morte em geral acontece em efígie: a vítima é ridicularizada, achincalhada, menosprezada... Quanto mais tenta se defender mais é objeto de críticas virulentas e debochadas, até que não lhe resta outra saída senão enlouquecer, sair de cena... Ou as duas coisas.
O que a mídia acha desses meus escritos?
Há sempre alguém nas redações que, após ler atentamente o que escrevi, simplesmente comenta:
“Que bicha mais doida!”
E assim desmerece o meu texto.
Mas vejam bem, quando escrevo sobre assassinato cultural, não quero dizer que sou vítima desse “crime”. De um modo geral a mídia me trata com respeito... Mesmo porque é difícil não fazê-lo com alguém cujo trabalho atrai a devoção fiel e diária de mais de 50 milhões de pessoas.
Mas se o novelista é bem tratado – menos pelos fifis, que não têm a menor importância -, o autor teatral e o romancista não merecem a mesma consideração: “98 TIROS DE AUDIÊNCIA”, o último livro que lancei, foi solenemente ignorado. Mereceu uma única resenha na revista “Isto É”, e eu soube que um editor de caderno literário, ao ser sondado sobre a possibilidade de publicar uma crítica ao seu autor, disse que não o faria e explicou porquê:
“Esse aí não é do ramo”.
E olha que era o meu décimo-quarto livro!
De vez em quando uma dessas “mortes” em efígie de que falei acima se transforma em morte verdadeira, como foi o caso recente de Clodovil Hernandes.
[...]
Por isso é importante transcrever aqui o que Talese disse sobre a morte de Michael Jackson - a mais notória de todas as vítimas recentes de “assassinato cultural” – numa entrevista à Folha de São Paulo:
"A imprensa deve desculpas a Michael Jackson", diz. "A forma como o trataram é horrível." Para ele, os problemas do astro pop - drogas, isolamento - se agravaram pela forma irresponsável com que a imprensa lidou com as acusações de abuso sexual que pesavam sobre ele. "Morreu difamado antes de ter morrido."
"Seja qual for a razão que o legista der para a morte, não vai fazer diferença. Ele começou a morrer quando as acusações ganharam as manchetes. Em conluio com os acusadores, estava a mídia americana." E mais adiante:
"Agora que Michael Jackson está morto todos se lamentam, como se sua morte fosse uma tragédia nacional. Mas ele já era uma tragédia nacional todos esses anos e ninguém o ajudou. Viveu em infâmia."
Aguinaldo silva, Publicado no blog dia 3/07/2009
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