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domingo, 8 de agosto de 2010

BARES E CASAMENTOS



Martha Medeiros

Em Londres um pub está fazendo sucesso porque instalou para
seus clientes uma cabine telefônica com uma sonorização peculiar: enquanto a pessoa fala ao telefone, pode acessar o som de um
congestionamento, com muito buzinaço. Ou pode acessar o som de um ambiente de escritório.

Toda essa parafernália é para que quem esteja do outro lado da linha
não identifique o som do bar. Assim o bebum pode dar uma desculpa
esfarrapada e chegar em casa sem levar uma descompostura, afinal, estava trabalhando até tarde, o coitado, e ainda por cima ficou preso num engarrafamento depois.

Essa cabine telefônica com efeitos especiais só vem demonstrar que os bares andam muito moderninhos, mas os casamentos continuam parados no tempo, mesmo na vanguardista Inglaterra.

"Só vou se você for" segue na moda. Enquanto isso a hipocrisia deita e rola.

Muitas pessoas ainda têm uma idéia convencional do casamento:
encaminham-se para o altar como quem encaminha-se para o supermercado em busca de um produto pronto, industrializado, com um rótulo dando as instruções de como utilizá-lo, e parece
que a primeira instrução é: nenhum dos dois têm o direito de se divertir sozinho ou com os amigos, a menos que o cônjuge esteja junto.

Não é de estranhar que os prazos de validade do amor andem cada vez mais curtos.

Não há paixão que resista ao grude.
Não há paciência que resista à patrulha.
Não há grande amor que prescinda de outras amizades.

Sair sozinho para beber com os amigos deveria ser um dos 10
mandamentos para uma união estável, valendo para ambos os sexos.

Quem não gosta de bar poderia substituir por futebol, cinema, shows,
sinuca, saraus ou o que o Caderno de Cultura sugerir.

E não perca tempo lamentando por aquele que vai ficar em casa.

Provavelmente ele vai se divertir tanto quanto. Ouvir música, ver
televisão, ler livros, abrir um vinho, tomar um banho de duas horas, navegar na internet, dormir cedinho, tudo isso também é um programaço. Quem não sabe ficar sozinho não pode casar, sob pena de transformar o matrimônio num presídio para dois.

Tem muita coisa em Londres que eu gostaria de ter aqui: parques mais bem cuidados, mais livrarias, mais respeito à individualidade, melhor transporte público, prédios mais charmosos.

Só dispensaria o clima e esse pub pra lá de vitoriano, onde pessoas
adultas são incentivadas a inventar um álibi para justificar um atraso.

Atraso é ter que mentir para que o outro não perceba que você está feliz.
E estas pessoas da cabine, acham que estão sendo inteligentes.

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